Pelo menos 31
palestinos foram mortos a tiros a caminho de um ponto de distribuição de ajuda
na Faixa de Gaza neste sábado (12), enquanto ataques aéreos israelenses mataram
pelo menos outros 28, incluindo quatro crianças, segundo
autoridades hospitalares palestinas e testemunhas.
Não houve sinais
de avanço nas negociações por um cessar-fogo após dois
dias de reuniões entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro
israelense, Benjamin Netanyahu. Trump havia
dito que estava próximo de um acordo entre Israel e o Hamas que
poderia encerrar a guerra.
Os 31 palestinos
baleados estavam a caminho de um ponto de distribuição operado pela organização
americana Fundação Humanitária de Gaza, apoiada por Israel, próximo a Rafah, no
sul da Faixa de Gaza, de acordo com fontes hospitalares e testemunhas.
O Comitê
Internacional da Cruz Vermelha informou que seu hospital de campanha recebeu o
maior número de mortos em mais de um ano de operação após os tiroteios, e que
a grande maioria dos mais de 100 feridos apresentava ferimentos por
arma de fogo.
Ataques aéreos em
Deir al-Balah, no centro de Gaza, mataram 13 pessoas, incluindo as quatro
crianças, segundo o Hospital Mártires de Al-Aqsa. Outras 15 pessoas foram
mortas em Khan Younis, no sul, de acordo com o Hospital Nasser. As Forças de
Defesa de Israel não responderam imediatamente aos pedidos de comentário.
Intensos ataques
aéreos continuaram na noite de sábado na região de Beit Hanoun, no norte da
Faixa de Gaza.
Israelenses
voltaram às ruas para protestar por um acordo de cessar-fogo. “A arrogância foi
o que trouxe esse desastre sobre nós”, disse o ex-refém Eli Sharabi,
referindo-se aos líderes israelenses.
Primeira
tentativa de buscar comida termina em morte
A guerra, que já
dura 21 meses, deixou grande parte da população de Gaza
— mais de 2 milhões de pessoas — dependente de ajuda externa,
enquanto especialistas em segurança alimentar alertam para o risco de fome.
Israel bloqueou e depois restringiu a entrada de ajuda após o fim do último
cessar-fogo, em março.
“Todos os feridos
relataram que estavam tentando acessar pontos de distribuição de alimentos”,
afirmou a Cruz Vermelha após os tiroteios próximos a Rafah, destacando a
“frequência e escala alarmantes” desses incidentes com muitas vítimas.
O Exército de
Israel afirmou que disparou tiros de advertência contra pessoas que, segundo
eles, agiam de forma suspeita, para impedi-las de se aproximarem. Disse também
que não tinha conhecimento de vítimas. A GHF declarou que nenhum incidente
ocorreu próximo aos seus pontos de distribuição.
Abdullah
al-Haddad contou que estava a cerca de 200 metros do ponto da GHF próximo à
área de Shakoush quando um tanque israelense começou a disparar contra a
multidão de palestinos.
“Estávamos juntos
e eles atiraram em nós de uma vez”, disse ele, contorcendo-se de dor por causa
de um ferimento na perna, no Hospital Nasser.
Mohammed Jamal
al-Sahloo, outra testemunha, disse que os militares israelenses haviam ordenado
que eles se dirigissem ao local quando os disparos começaram.
Sumaya al-Sha'er
teve o filho de 17 anos, Nasir, morto, segundo autoridades hospitalares
“Ele me disse:
‘Mãe, você está sem farinha e hoje eu vou buscar farinha para você. Mesmo que
eu morra, vou trazer’”, contou ela. “Mas ele nunca voltou para casa.”
Até então, ela
havia impedido o filho de ir aos pontos da GHF por considerar a situação
perigosa demais.
Testemunhas,
autoridades de saúde e representantes da ONU afirmam que centenas de pessoas
foram mortas por disparos israelenses enquanto se dirigiam aos pontos de
distribuição da GHF, localizados em zonas militares proibidas à imprensa
independente. O exército reconheceu que dispara tiros de advertência contra
palestinos que, segundo eles, se aproximam de forma suspeita.
A GHF nega
qualquer violência em seus pontos de distribuição. No entanto, dois contratados
da fundação disseram à Associated Press que colegas atiraram com munição real e
lançaram bombas de efeito moral contra palestinos que buscavam comida,
alegações negadas pela organização.
Paralelamente, a
ONU e grupos de ajuda humanitária afirmam que enfrentam dificuldades para
distribuir assistência devido a restrições militares israelenses e à quebra da
ordem pública, que resultou em saques generalizados.
Nesta semana,
pela primeira vez em 130 dias, entrou combustível em Gaza — 150 mil litros —,
segundo comunicado conjunto de agências da ONU, que classificaram a quantidade
como pequena diante da necessidade de garantir “a sobrevivência em Gaza”. O
combustível alimenta hospitais, sistemas de água, transporte e mais.
Militantes
liderados pelo Hamas mataram cerca de 1.200 pessoas no ataque de 7 de outubro
de 2023 contra Israel, que desencadeou a guerra, e sequestraram 251 pessoas. O
Hamas ainda mantém cerca de 50 reféns, dos quais pelo menos 20 ainda estariam
vivos.
A ofensiva de
retaliação de Israel já matou mais de 57.800 palestinos — mais da metade
mulheres e crianças —, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. O
ministério, controlado pelo Hamas, não diferencia civis de combatentes nas
estatísticas. A ONU e outras organizações internacionais consideram esses
números como as estimativas mais confiáveis de vítimas da guerra.
Palestino-americano
é morto na Cisjordânia
Amigos e
familiares prestaram homenagens um dia após a morte do palestino-americano
Seifeddin Musalat e de seu amigo local Mohammed al-Shalabi, na Cisjordânia
ocupada por Israel, segundo o Ministério da Saúde palestino.
Musalat foi
espancado até a morte por colonos israelenses em terras da família, disse sua
prima Diana Halum a repórteres. Os colonos então impediram que os paramédicos
chegassem até ele, afirmou.
Nascido na
Flórida, Musalat estava visitando a casa da família. Seus parentes querem que o
Departamento de Estado dos EUA investigue sua morte e responsabilize os
colonos. O departamento disse estar ciente das informações sobre sua morte, mas
não comentou, em respeito à família.
Uma testemunha,
que pediu anonimato por medo de retaliação, afirmou que os colonos invadiram as
terras palestinas e “começaram a atirar contra nós, bater com bastões e jogar
pedras”.
O Exército de
Israel disse que palestinos haviam atirado pedras contra israelenses na região
na sexta-feira, ferindo levemente duas pessoas e provocando um confronto maior.
Palestinos e
organizações de direitos humanos há muito acusam o exército israelense de
ignorar a violência cometida por colonos — que aumentou, assim como os ataques
palestinos e as incursões militares israelenses — desde o início da guerra em
Gaza.
(AP.org)