As exportações de calçados
produzidos no Ceará registraram queda em julho de 2025, com retração de 9,4% no
volume de pares embarcados em comparação ao mesmo mês do ano anterior. O
resultado representa o envio de cerca de 2 milhões de pares ao mercado
internacional — um desempenho que posicionou o estado como o de pior resultado
entre os três principais polos calçadistas do país, superado por Rio Grande do
Sul e São Paulo.
Em termos de receita, a redução
foi ainda mais significativa: 14,2% a menos em relação a julho de 2024. No
total, as exportações cearenses de calçados somaram US$ 13,4 milhões
(aproximadamente R$ 72,7 milhões). Os dados foram divulgados nesta
segunda-feira (11) pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados
(Abicalçados), com base em informações da Secretaria de Comércio Exterior
(Secex).
Apesar da queda pontual, o
acumulado do ano mostra um cenário misto. Entre janeiro e julho, o Ceará
exportou 19,5 milhões de pares, uma alta de 11,2% no volume. No entanto, a
receita gerada caiu 1,1% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando US$
117,68 milhões (R$ 636,4 milhões na cotação atual).
Sobretaxação
dos EUA e concorrência asiática: os vilões da vez
A retração nas exportações ocorre
em meio a um cenário internacional mais turbulento, marcado pela aplicação de
uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros pelo presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump. Diferentemente de setores como ferro e aço, os
calçados não foram isentos da medida, o que afetou diretamente o desempenho do
Ceará — segundo maior exportador de calçados do país, atrás apenas do Rio
Grande do Sul.
“O tarifaço imposto pelos EUA
aumentou os custos e reduziu a competitividade do calçado brasileiro em
mercados estratégicos. E, com a concorrência asiática se intensificando, a pressão
é dupla”, afirma Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados.
Segundo ele, indústrias de países
asiáticos — que operam com menores custos de produção — estão redirecionando
seus produtos para mercados onde o Brasil atuava com força, como Europa e
América Latina. Isso tem prejudicado o desempenho brasileiro nesses destinos,
mesmo com os Estados Unidos ainda sendo o principal comprador: só em julho, o
país importou 1 milhão de pares do Brasil, crescimento de 26,4% frente ao mesmo
mês de 2024.
Cenário
desafiador e oportunidades de diversificação
Para o economista Alex Araújo, o
ambiente internacional exige do Ceará mais do que resiliência: exige
estratégia. “O tarifaço trouxe um novo nível de incerteza para o exportador
cearense. E embora países asiáticos também estejam enfrentando sobretaxas
americanas, eles ainda competem com vantagens estruturais — como mão de obra
mais barata e maior flexibilidade produtiva”, aponta.
A saída, segundo especialistas,
pode estar na diversificação. O economista Eldair Melo, do Conselho Regional de
Economia do Ceará (Corecon-CE), vê uma janela de oportunidade na crise:
“Reduzir a dependência dos Estados Unidos, que hoje recebem cerca de metade dos
calçados cearenses exportados, pode ser o caminho. A América Latina e a União
Europeia são alternativas viáveis.”
Ele calcula que, se ao menos 30%
dos volumes perdidos forem redirecionados para esses mercados, o impacto
negativo nas contas externas do setor será significativamente amortizado.
Reagir
com estratégia e acordos internacionais
Para além do esforço individual
das indústrias calçadistas, analistas defendem a necessidade de políticas
públicas voltadas à exportação. “Sem uma política comercial robusta, com foco
na celebração de acordos bilaterais e regionais que garantam previsibilidade ao
exportador, a diversificação continuará sendo um desafio”, diz Araújo.