Em uma região que compreende aproximadamente de
Paraipaba a Acaraú, forte na produção e beneficiamento de coco, os efeitos do
tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos “devem
ser devastadores”. Na tarde dessa quarta-feira (30), o presidente Donald Trump
oficializou a medida, mantendo a sobretaxa para o agronegócio e outros setores
econômicos do Brasil.
Diante disso, a Paraipaba Agroindustrial, maior empresa
exportadora de coco e derivados do Ceará, estima perda anual de R$ 100 milhões
no faturamento e cogita férias coletivas e/ou desligamento de 40% do quadro de
trabalhadores.
A empresa, que gera 570 empregos diretos e
5,5 mil indiretos, produz aproximadamente 4 milhões de litros de água de coco
por mês.
Fábio Macedo, diretor-executivo da empresa, relata que
os últimos dias foram de “correria para envio dos últimos contêineres” antes da
medida começar a valer. De acordo com ele, o último navio com a mercadoria saiu
do Pecém no dia 27 de julho rumo aos Estados Unidos, no que foi o selamento de
uma força-tarefa pré-tarifas.
“O que estava ao nosso alcance foi feito. Graças a Deus,
conseguimos bater as metas com os clientes, foram três domingos de uma operação
de guerra”, relatou.
A Paraipaba Agroindustrial exportou, em 2025, 53% da sua
produção para os Estados Unidos. Só em julho, 85% foram destinados ao país
norte-americano.
Rita Granjeiro, empresária do setor que esteve na
reunião entre empresários cearenses e governo estadual com o vice-presidente da
República, Geraldo Alckmin, corrobora o cenário ameaçador. “Vai ser devastador
para a cadeia do coco. Será um desastre para a nossa região”.
Corrida contra o relógio
A situação tem provocado uma corrida não só no segmento
do coco, mas entre os empresários de variados setores no Ceará, que buscaram
garantir o envio dos produtos antes do tarifaço.
Rita exemplifica que, em alguns produtos, como o
pescado, exportadores estão optando pelas exportações por avião, para que o
item chegue a tempo, mesmo com esse transporte saindo mais caro que a via
marítima. No caso do coco, essa alternativa é inviável. “Não se faz porque não
compensa”, enfatiza.
Em meio a essa corrida para o envio, há até
“overbooking” de cargas (mais reservas do que a capacidade de transporte
disponível). A empresa Dikoko, que exporta para os Estados Unidos desde 2023,
enfrentou a situação.
"Nosso último contêiner foi embarcado dia 27, mas
houve realocação por parte do armador, devido ao excesso de peso na embarcação
anterior", diz Livia Baral, gerente de exportações da Dikoko.
"Antecipamos os envios o máximo possível para
garantir a chegada antes do prazo. Agora, seguimos atentos às notícias, ao
mesmo tempo em que articulamos negociações com nossos clientes para ajustar as
condições e evitar a paralisação das operações", pontua.
A empresa, inclusive, participou em julho de uma feira
em Nova York, o que havia ampliado o acesso da cearense ao mercado
norteamericano, gerando novos pedidos de compra.
Pedidos em stand-by e perda de
competitividade
Agora, a Dikoko lida com pedidos colocados em stand-by a
pedido dos importadores. "Por outro lado, há clientes que permanecem
interessados e, com esses, estamos em negociação de novos preços ou condições
para viabilizar os negócios". Por enquanto, é difícil mensurar os
prejuízos, de acordo com ela.
"No entanto, já sabemos que o impacto poderá ser
significativo — não apenas para a Dikoko, mas para toda a cadeia produtiva do
coco no Nordeste do Brasil. Temos investido fortemente em infraestrutura e no
setor agrícola, com foco neste mercado, que já demonstrou ser bastante
receptivo aos nossos produtos”, observa.
“Contamos com diversas vantagens competitivas em relação
ao nosso principal concorrente (Ásia), como tempo de trânsito mais curto, boas
opções logísticas e um preço final mais competitivo”, afirma Lívia.
Fábio Macedo reforça que os países asiáticos que
fornecem o mesmo produto para os Estados Unidos variam em tarifas de 19% a 30%.
“Se trata de um gap de 20% (em relação ao tarifaço), sem considerar o Custo
Brasil, porque hoje nosso produto já não é tão competitivo devido a isso”.
Perguntado se existe viabilidade para direcionar a
produção para o mercado interno, Fábio avalia que não seria totalmente
possível. "Não conseguiríamos escoar 100% para o mercado interno. Ele
absorve, mas é volátil. O consumo é concentrado no verão".
(Ingrid Coelho
/ DN)