O cultivo do açaí no litoral oeste do Ceará está transformando a
paisagem agrícola da região. O projeto, idealizado pelo empresário Alberto
Félix, começou em 2016, após uma viagem ao Pará. Inspirado pelo plantio
tradicional, ele decidiu adaptar a cultura ao semiárido cearense. “Nós
começamos em 2016. Contactamos com a Embrapa lá do Pará e realmente a Embrapa
já tinha desenvolvido uma cultivar para terra firme, que é a cultivar que nós
plantamos hoje aqui, mas não tinha nada de histórico ainda aqui na nossa região.
Então resolvi trazer todo esse histórico, todo o estudo que havia sido feito na
época pela Embrapa e plantamos aqui no Ceará — e deu certo”, contou Alberto.
Diferente da variedade amazônica, cultivada em áreas alagadas, o
açaí cearense é produzido em terra firme e tem se beneficiado do forte índice
de insolação do estado. “O que pesou positivamente foi a quantidade de euro-sol
que nós temos aqui no Ceará. Nós possuímos mais de 3.200 horas de sol, isso aí
é muito benéfico para o açaí. A gente consegue melhorar o brix dele, consegue o
produto ficar mais adocicado naturalmente, sem precisar de aditivo”, explicou.
Com uma área que atualmente produz cerca de 100 mil mudas, a meta
da empresa é alcançar 1 milhão até o fim do ano. Além do cultivo, a empresa
também vende mudas e oferece assistência técnica aos interessados, com o objetivo
de tornar o Ceará autossuficiente e colocá-lo entre os três maiores produtores
de açaí do país.
A sustentabilidade também é pilar do projeto. O agrônomo Eliezer
de Araújo destaca a importância da preservação ambiental para manter a
produtividade. “É necessário que o produtor conserve as matas ao redor, que é
onde a gente vai ter boa parte dos polinizadores. E também se tenha colmeias ao
longo da área produtiva. E as abelhas ideais são as abelhas nativas do Brasil,
que são as abelhas sem ferrão. São as abelhas que são mais eficientes na
polinização. Então é muito importante esse detalhe de ter o cultivo de abelhas
e preservar as matas ao entorno”, explicou.
O agricultor Carlos Henrique é um dos beneficiados pela nova
cadeia produtiva. “Eu trabalhava numa horta com verdura, só que lá não era
carteira assinada. Aí apareceu a oportunidade aqui, eu agarrei”, contou.
Com o crescimento da produção, a empresa projeta instalar uma
indústria na própria fazenda, aumentando a oferta de subprodutos. “É um produto
muito desejado, não só aqui no estado como fora, até do país. Mas também, além
do açaí, nós estamos fazendo o pó do açaí, que é o açaí liofilizado. Nós
estamos comercializando as mudas para os nossos clientes, dando toda a
assistência técnica ao produto rural. Como também já estamos trabalhando no
desenvolvimento de outros subprodutos. E aí vem o óleo do açaí, que nós estamos
já trabalhando para fazer cosméticos. Vem a questão do caroço do açaí que nós
estamos fazendo, o café do açaí, o chá do açaí com esse subproduto. Tem o
palmito, que é outro subproduto também utilizado e comercializado”, explicou
Alberto.
A filha de Alberto, Victoria Albuquerque, assumiu a gestão do
negócio ao lado do pai e está à frente da expansão internacional. “A gente está
agora com açaí em pó, que é oleofilizado, que é também para o mercado externo.
A gente também já está investido também em cosméticos, em linhas de cosméticos.
Também pode ser um novo mercado para a gente realmente entrar. Então, a gente
sempre prioriza mais essa parte de tecnologia e pesquisa para poder chegar
nesse mercado externo e fazer realmente a nossa inovação aqui no mercado”,
afirmou.