O Papa Francisco, o primeiro
pontífice da América Latina e o primeiro jesuíta a assumir o trono de São
Pedro, morreu aos 88 anos de idade, nesta segunda-feira (21). Jorge Mario
Bergoglio, que se tornou o 266º Papa em 2013, foi um líder carismático e
inovador, conhecido por sua abordagem acessível e por seu compromisso com
questões sociais e ambientais. A partida do líder da Igreja Católica deixa um
legado complexo e multifacetado.
O Papa Francisco faleceu na manhã
desta segunda-feira, 21 de abril de 2025, às 7h35, em Roma, conforme anúncio
oficial do Vaticano. O pontífice lutava contra problemas de saúde há vários
anos, tendo enfrentado recentemente uma pneumonia dupla que agravou o quadro
clínico. Ele ficou internado no Hospital Gemelli por 38 dias e havia retornado
ao Vaticano, para continuar o tratamento.
Jorge Mario Bergoglio, o Papa
Francisco, foi o primeiro pontífice latino-americano e o primeiro jesuíta a
liderar a Igreja Católica, desde sua eleição em 2013. Seu nome foi escolhido em
homenagem a São Francisco de Assis. Defensor dos refugiados, dos sem-teto e do
meio ambiente, Francisco realizou 47 viagens internacionais, visitando favelas
e regiões periféricas, na intenção de aproximar a Igreja das comunidades
excluídas.
Além disso, Francisco buscou o
diálogo inter-religioso, encontrando-se com líderes judeus, muçulmanos e
ortodoxos, e foi o primeiro Papa a visitar a Península Arábica, onde assinou um
documento histórico com líderes muçulmanos em 2019.
O
impacto global da morte do Papa Francisco
A morte do Papa Francisco não
afeta apenas os católicos; sua influência se estendeu a líderes mundiais e
movimentos sociais. Ele foi um defensor do diálogo inter-religioso, promovendo
a paz entre diferentes crenças e culturas. A abordagem de Francisco ao
ecumenismo ajudou a suavizar tensões entre católicos e outras denominações
cristãs, bem como com religiões não cristãs.
Francisco também se destacou em
questões econômicas, criticando o capitalismo desenfreado e defendendo uma
economia mais justa que priorizasse os pobres. As mensagens do Papa sobre
pobreza e desigualdade foram especialmente relevantes em um mundo cada vez mais
polarizado.
A transição de liderança
Com a morte do Papa Francisco, o
mundo agora aguarda ansiosamente o próximo conclave para eleger seu sucessor. A
escolha do novo Papa será crucial para determinar a direção futura da Igreja
Católica. Os cardeais terão a tarefa difícil de encontrar alguém que possa
continuar o legado de Francisco ou talvez retornar a uma abordagem mais
conservadora.
Os desafios enfrentados pelo
próximo Papa incluem não apenas as questões internas da Igreja, mas também os
problemas globais que Francisco abordou durante seu papado. A crise climática
continua sendo uma preocupação urgente, assim como as desigualdades sociais
exacerbadas pela pandemia de COVID-19.
Problemas de saúde ao longo dos
anos
A história de saúde do Papa
Francisco é marcada por uma série de desafios que se intensificaram ao longo
dos anos, refletindo tanto seu avançado estado de idade quanto as complicações
decorrentes de condições médicas anteriores. Nascido em 17 de dezembro de 1936,
Jorge Mario Bergoglio, que se tornaria o Papa Francisco, enfrentou problemas de
saúde desde a juventude, quando, aos 21 anos, teve parte do pulmão direito
removida devido a uma grave pneumonia e pleurisia. Essa condição inicial
estabeleceu um padrão para sua saúde ao longo da vida.
Desde sua eleição como Papa em
2013, Francisco tem enfrentado uma série de problemas de saúde que geraram
preocupações tanto entre os fiéis quanto na mídia. Em 2021, ele passou por uma
cirurgia significativa para remover 33 centímetros do cólon devido a
diverticulite, uma condição inflamatória intestinal que causa dor intensa. Essa
operação foi um marco em seu histórico médico e exigiu um período de
recuperação que o afastou temporariamente de suas funções papais.
Nos anos seguintes, o Papa
continuou a enfrentar dificuldades relacionadas à sua saúde. Em 2022, ele
começou a sofrer com dores no joelho e no quadril, o que o levou a utilizar uma
cadeira de rodas em público pela primeira vez. Essas limitações físicas não
impediram Francisco de se comunicar com seus seguidores; ele frequentemente
realizava audiências breves e mantinha contato com líderes mundiais e
comunidades necessitadas.
Internações recentes
O ano de 2023 foi particularmente
desafiador para o Papa em termos de saúde. Ele foi hospitalizado várias vezes
devido a infecções respiratórias e complicações relacionadas. Em março daquele
ano, Francisco foi internado com dificuldades respiratórias e diagnosticado com
bronquite, recuperando-se rapidamente após tratamento com antibióticos. No
entanto, sua saúde continuou a se deteriorar, levando a internações adicionais.
Em fevereiro de 2025, Francisco
foi internado novamente no Hospital Gemelli em Roma devido a uma infecção
polimicrobiana do trato respiratório. Essa condição foi descrita como um quadro
clínico complexo e exigiu modificações em seu tratamento. O Vaticano informou
que o Papa permaneceria hospitalizado por tempo indeterminado, gerando
preocupação entre os católicos e o público em geral sobre seu estado de saúde.
O
legado
Desde sua eleição, o Papa
Francisco foi visto como uma figura que buscava reformar a Igreja Católica,
trazendo uma nova perspectiva sobre temas que antes eram considerados tabus.
Ele enfatizou a importância da misericórdia,
da justiça
social e do cuidado com o meio ambiente,
refletindo em suas encíclicas como Laudato si’, que
abordou a crise climática e a responsabilidade humana em cuidar da Terra. A
mensagem do pontífice de inclusão e acolhimento ressoou profundamente entre os
fiéis e aqueles que se sentiam marginalizados pela Igreja.
Francisco também foi um defensor
dos direitos dos imigrantes e refugiados, frequentemente visitando comunidades
vulneráveis e falando sobre a necessidade de compaixão e solidariedade. A
famosa visita à ilha de Lampedusa, onde muitos imigrantes desembarcam na
Europa, simbolizou seu compromisso com os mais necessitados. Ele sempre buscou
humanizar a imagem da Igreja, afastando-se de uma postura conservadora que
predominou em décadas anteriores.
Desafios enfrentados
Apesar de seu impacto positivo, o
Papa Francisco também enfrentou desafios significativos durante seu papado. As
crises de abuso sexual dentro da Igreja continuaram a assombrá-lo, e ele foi
criticado por alguns por não agir com a rapidez esperada em relação a esses
escândalos. No entanto, ele tomou medidas para aumentar a transparência e
responsabilizar os culpados, criando comissões e revisando políticas internas.
Além disso, sua tentativa de
implementar reformas na Cúria Romana encontrou resistência de setores
conservadores da Igreja. Muitos católicos tradicionais viam suas ideias como uma
ameaça à doutrina estabelecida. Mesmo assim, Francisco manteve sua visão
progressista, buscando um equilíbrio entre tradição e modernidade.
Relação
com a comunidade LGBT
O apoio do Papa Francisco à
comunidade LGBTQIA+ tem sido ambíguo e marcado por declarações e ações que
geraram tanto elogios quanto críticas.
Declarações de apoio e inclusão
Abertura à comunidade
LGBTQIA+: Francisco afirmou que a Igreja Católica está aberta a todos,
incluindo pessoas LGBTQIA+, e que a instituição tem o dever de acompanhar essas
pessoas no caminho para a espiritualidade, dentro das regras católicas.
Mulheres trans são filhas de
Deus: O Papa declarou que mulheres trans são “filhas de Deus”,
reiterando que Deus ama a todos como são e que Jesus ensina a não estabelecer
limites.
“Quem sou eu para
julgar?”: No início de seu papado, Francisco disse: “Se uma pessoa é gay,
busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?”, sinalizando uma
abordagem mais acolhedora.
Direito à proteção legal: No
filme “Francesco”, lançado em 2020, o Papa expressou a opinião de que “os
homossexuais têm direito a formar uma família” e que é a favor de uma
legislação para regulamentar a união civil homoafetiva, defendendo que “eles
têm direito a estarem legalmente protegidos”.
Controvérsias e limitações
“Já existe bichice demais” em
seminários: Em uma reunião fechada com bispos italianos, o Papa teria
usado o termo vulgar “frociaggine” (bichice) ao pedir para que bispos italianos
não aceitem padres abertamente gays. O Vaticano não se manifestou sobre a fala,
mas o diretor de imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, disse que o Papa pediu
desculpas por afirmações que ele teria dito na reunião, e que “o papa nunca
pretendeu ofender ou expressar-se em termos homofóbicos, e se desculpa com quem
se sentiu ofendido pelo uso de um termo, referido por outros”.
Homossexuais não devem ser
padres: O Papa reiterou que homossexuais não deveriam ter permissão
para se tornar padres.
Críticas à “ideologia de
gênero”: Em março de 2024, o Papa chamou os estudos de gênero de “ideologia
horrível” que ameaça a humanidade.
Oposição ao casamento entre
pessoas do mesmo sexo: O Papa mantém a posição de que a
Igreja está aberta a todos, mas as uniões homossexuais não podem ser
abençoadas.
Criminalização da
homossexualidade: Apesar de se opor à criminalização da
homossexualidade, o Papa mantém a diretriz católica que incentiva pessoas que
sentem atração por alguém do mesmo sexo a manter a castidade.
Apesar de Francisco ter
demonstrado abertura em relação à comunidade LGBTQIA+ em certos momentos, suas
opiniões e ações permanecem dentro dos limites da doutrina católica
tradicional, o que gera críticas de ambos os lados do espectro ideológico.
Como
foi a eleição do Papa Francisco
Jorge Mario Bergoglio nasceu em
17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina, e foi eleito Papa Francisco
em 13 de março de 2013, no segundo dia do conclave. A
eleição de Bergoglio marcou um evento histórico, sendo o primeiro Papa jesuíta,
o primeiro do continente americano, do Hemisfério Sul, e o primeiro não europeu
em mais de 1.200 anos.
Recentemente, ao completar 88
anos, tornou-se o líder mais velho da Igreja Católica nos últimos sete séculos,
superando papas como Clemente XII e Bento XVI.
Desde sua juventude, Francisco
foi moldado por uma vida simples, sendo filho de imigrantes italianos. Antes de
se tornar sacerdote, ele trabalhou como técnico químico e ingressou na
Companhia de Jesus em 1958. A trajetória de Jorge Mario Bergoglio na Igreja
começou com sua ordenação como padre em 1969, seguida por uma ascensão rápida a
posições de destaque, incluindo arcebispo de Buenos Aires e cardeal
Vários
fatores contribuíram para a eleição de Francisco:
Apelo à humildade e
simplicidade: Desde o momento em que apareceu na sacada da Basílica de São
Pedro, Francisco demonstrou humildade e simplicidade, alcançando o coração das
pessoas com palavras simples e gestos poderosos. Sua saudação “Irmãos e irmãs,
boa noite!” e sua referência aos cardeais que o buscaram “quase no fim do
mundo” para ser o novo bispo de Roma, demonstraram sua humildade.
Discurso aos cardeais: Em uma
entrevista, o Papa Francisco mencionou que um discurso que fez aos cardeais
antes do conclave gerou um aplauso inédito e, segundo ele, esse discurso foi a
sua “condenação”, referindo-se à sua eleição. Após o discurso, um cardeal de
língua inglesa teria dito: “Lindo isso que você disse! Lindo, lindo. Queremos
um papa como o senhor”, indicando o início de uma campanha para elegê-lo.
Apoio de cardeais
influentes: Segundo o jornal italiano Corriere Della Sera, houve um acordo
entre cardeais influentes como Angelo Sodano, Giovanni Battista Re, Tarcisio
Bertone e cardeais das Américas, apoiado pelo cardeal italiano Raffaele
Martino, para que Bergoglio vencesse a eleição3. O Papa Francisco teria
recebido mais de 90 dos 115 votos dos cardeais no conclave.
A eleição de Jorge Mario
Bergoglio ocorreu em um momento em que o catolicismo perdia fiéis para outras
igrejas. Ao ser questionado se aceitava a eleição, Bergoglio disse: “Eu sou um
grande pecador, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento,
aceito”. Ele escolheu o nome de Francisco em referência a São Francisco de
Assis, conhecido por seu trabalho com os pobres.
Os
Papas mais velhos da história
Os papas mais velhos da história
da Igreja Católica são uma parte interessante da longa tradição papal. Com a
recente idade do Papa Francisco, que completou 88 anos em 17 de dezembro de
2024, ele se tornou um dos papas mais velhos a exercer o pontificado, ocupando
a sexta posição na lista de longevidade.
Aqui estão
os papas mais velhos registrados na história:
Bento XVI – Embora tenha
renunciado ao papado aos 85 anos, ele faleceu aos 95 anos, tornando-se o papa
mais velho em termos de idade ao morrer, mas não enquanto estava no cargo.
Leão XIII – Viveu até os 93
anos e é reconhecido como o papa que exerceu o cargo por mais tempo em idade
avançada durante seu pontificado.
Gregório XII – Chegou aos 92
anos, sendo um dos papas mais velhos a governar.
Celestino III – Também viveu
até os 92 anos e é notável por sua longevidade.
Lúcio III – Este papa viveu
até os 88 anos.
Clemente XII – Assim como
Lúcio III, Clemente XII também chegou aos 88 anos.
Após esses papas, o Papa
Francisco agora ocupa a sexta posição na lista, tendo completado 88 anos e
superado papas como Clemente XII e Lúcio III. A longevidade de Francisco no
cargo é notável, especialmente considerando que ele é o primeiro papa jesuíta e
o primeiro da América Latina.
Esses dados revelam não apenas a
idade avançada desses líderes espirituais, mas também a continuidade e a
resiliência da Igreja Católica ao longo dos séculos. A saúde e a capacidade de
liderar em idades tão avançadas são testemunhos do compromisso desses papas com
suas responsabilidades e com a Igreja.